Considerando que a minha defesa do método das melhores rotas na comunidade internacional não teve muitos adeptos, acho que é bom reconsiderar o que eu disse antes.
A menção do Gerald Weber e do Vitor Dias ao material obtido com o DEER/MG me fez reler a terminologia rodoviária do DNIT, encontrada no site do DNIT em Modais > Infraestrutura Rodoviária, e também em PNV e SNV > Sistema Nacional de Viação.
Esse documento fala sobre a jurisdição das rodovias (federal, MT, DNIT, estadual, municipal, coincidentes; desdobrada em jurisdição e administração pelo DER/SP), a classificação das rodovias (urbana, rural, vicinal), a situação das rodovias (planejada, leito natural, implantada, pavimentada, multi-faixas, duplicada, pista tripla, travessia, em obras de implantação/pavimentação/duplicação), outros tipos de rodovias (anel viário, contorno viário), e outras coisas como os tipos de obras, os tipos de manutenção, e o sistema usado para definir como são destinados os investimentos em construção e manutenção (basicamente tráfego/demanda e retorno financeiro). Acho interessante notar que os mapas do DNIT e do SNV sempre apresentam uma combinação de situação e jurisdição, mas nunca vi um mapa com a classificação.
Acho interessante que o próprio documento do DNIT parece não adotar a distinção entre rodovia (pavimentada) e estrada (não-pavimentada) que o CTB adota, e ao invés disso simplesmente usa os dois termos de forma intercambiável (portanto, equivalente ao termo via rural do CTB). Por exemplo, define rodovia vicinal como “estrada local”, ou seja, colocando numa mesma classe as situações pavimentada, implantada e leito natural.
Pensando um pouco mais na terminologia usada para a classificação, eu notei que o DAER/RS e o DEER/MG apresentam os seguintes tipos em comum (que o DEER/MG chama de jurisdição e o DAER/RS chama de rede):
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Rodovia Federal
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Rodovia Estadual
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Rodovia Estadual Coincidente
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Rodovia Vicinal / Estadual de Ligação
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Rodovia de Acesso (Federal/Estadual/Local/Coincidente)
E o DAER/RS ainda tem o tipo Travessia Urbana. Os grifos são os termos coincidentes com a classificação do DNIT. Nenhum deles cita estradas, e há trechos referidos como rodovia cuja situação (também referida nas planilhas do DNIT e do DEER/MG como superfície) é implantada ou leito natural (o DEER/MG não distingue entre os dois tipos, e o DAER/RS distingue e também distingue as que estão em obras). Ou seja, esses departamentos estaduais estão seguindo a definição de rodovia do DNIT, que é a mesma de via rural do CTB. Isso tudo sugere que não pensam na pavimentação como um critério que diferencie classes.
Ainda na página sobre o SNV, tem uma descrição de códigos de compatibilização para os trechos acessórios:
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Eixo Principal
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Acesso
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Anel
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Contorno
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Travessia Urbana
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Variante (de um eixo principal)
Talvez o que precisamos fazer é um levantamento das classes usadas por cada um dos departamentos locais e estabelecer as equivalências baseadas nessa terminologia e nas planilhas oficiais (e não esquecer de pensar na equivalência com as classes do CTB para vias urbanas e muito referenciadas pelas prefeituras nos planos diretores: trânsito rápido, arterial, coletora e local).
A Wikipédia apresenta uma mapa do SNV confeccionado por um autor independente que optou por representar as rodovias federais implantadas por linhas contínuas em tom mais fraco e as em leito natural por linhas tracejadas com o mesmo tom das vias de mesma classe, parecido com o que está sendo proposto no OSM-Carto para representar as vias não-pavimentadas de longa distância. Com a diferença de que implantada por definição significa surface=compacted que seria considerada não-pavimentada no OSM (mas no Brasil as vias implantadas sofrem com problemas de manutenção e em geral se parecem mais com surface=dirt).
Pra mim faz sentido as seguintes correspondências usando os dados dessas fontes oficiais (mas eu ainda gostaria de ver como os departamentos rodoviários de outros estados qualificam as suas vias):
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motorway
[list=*] -
autoestrada, ou seja, duplicada e com controle de acesso
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via rural (rodovia/estrada) federal de qualquer tipo (radial / longitudinal / transversal / diagonal / de ligação), incluindo anel/contorno viário e travessia urbana
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via rural estadual tronco / troncal (SP, MG, MT, talvez SC)
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via urbana arterial de tipo especial no plano diretor que interliga vias rurais federais e/ou vias estaduais tronco / troncais
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via rural estadual de qualquer tipo (radial / longitudinal / transversal / diagonal / de ligação / vicinal / de acesso), incluindo anel/contorno viário e travessia urbana
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via urbana arterial de tipo especial no plano diretor que interliga vias rurais estaduais (sem motorroad=yes)
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via urbana de trânsito rápido (com motorroad=yes)
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via urbana arterial
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via rural (estrada/rodovia) municipal [tornam-se vias urbanas arteriais conforme o perímetro urbano se expande]
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via urbana coletora
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via motorizada não-urbana e oficial que não é nem rodovia nem estrada municipal
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via urbana local sem residências (tipicamente em área industrial)
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via motorizada não-urbana e não-oficial
Desta forma, a classificação é verificável por qualquer um, não depende intrinsicamente de fatores físicos (exceto motorway, onde não temos como evitar), não apresenta descontinuidades/alternâncias, se assemelha à classificação adotada pelos países latinos, e pelo que estou imaginando também se assemelha bastante ao resultado obtido pelo método das melhores rotas (a principal diferença seria a elevação da classe de vias não pavimentadas em regiões com muitas vias pavimentadas; ver também a discussão a seguir; e nada impede que a comunidade estadual elabore conjuntamente uma lista pública de exceções à regra se achar que faz sentido no seu contexto).
Exceto pela dicotomia (talvez artificial) federal/estadual, o resto segue bem de perto a expectativa dos GPSs de que as rotas calculadas passem por vias inicialmente de classe crescente e terminem por vias de classe decrescente.
Como há muito tempo esperamos que o OSM-Carto implemente uma visualização das vias não pavimentadas, e a visualização Humanitária já faz essa diferenciação para todas as classes, não vejo motivo pra que a pavimentação afete a classe da via. Ou talvez isso poderia ser decidido pela comunidade local de cada estado.
Onde não houver plano diretor, o método das melhores rotas ainda poderia ser usado para se obter uma classificação razoável - por exemplo, para determinar quais arteriais urbanas são as interligações entre as vias rurais.