Distritos, subdistritos e bairros (genericamente e em Santa Maria, RS)

Um tempo atrás alguém perguntou como se mapeia distritos e subdistritos no OSM. Acho que Santa Maria pode ser um caso interessante para falar sobre essa questão.

Lendo as descrições na chave place me parece que:

  • place=borough corresponde ao conceito de distrito municipal* (“depending on the country suburbs in larger cities are often grouped into administrative units called boroughs or city districts”)
  • place=neighbourhood corresponde ao conceito de bairro (“A named part of a place=village, a place=town or a place=city. Smaller than place=suburb and place=quarter.”)
  • nenhum deles corresponde bem ao conceito de subdistrito, mas o que mais se aproxima é place=quarter (“A named part of a bigger settlement where this part is smaller then a suburb and bigger then a neighbourhood.”)

Agora, quarter e borough são muito pouco usados no OSM. Então acho que faz sentido a seguinte correspondência:

  • place=suburb para os distritos
  • place=quarter para os subdistritos (por ser incomum, nenhuma ferramenta exibiria o nome dessas entidades, mas no fim das contas eu acho que dos males é o menor)
  • place=neighbourhood para os bairros

E o que isso tem a ver com Santa Maria? Bem, atualmente o distrito Sede está mapeado com place=city (fazendo esse distrito aparecer mesmo nos níveis de zoom mais distantes, conflitando com o rótulo da cidade de Santa Maria), os bairros estão com place=suburb (exemplo) e as unidades residenciais com place=hamlet (exemplo), uma etiqueta que por definição se aplica somente a áreas rurais (“A smaller rural community typically with less than 100-200 inhabitants, few infrastructure.”). Não querendo apontar o dedo para ninguém (já que os bairros de Porto Alegre também estão com place=suburb, como é na maioria das cidades), eu acho que faria mais sentido mudar as coisas em Santa Maria dessa forma:

  • place=suburb para os distritos de Santa Maria (talvez em todo Brasil também)
  • place=neighbourhood para os bairros (talvez em todo o Brasil também)
  • place=locality+landuse=residential para as áreas residenciais; isso seria temporário, o ideal seria mapear a área delas com landuse=residential

Opiniões?

Resta ainda a questão de qual admin_level atribuir aos limites dessas áreas. Acho que faz sentido usar admin_level=9 para os distritos, e admin_level=10 para bairros seria necessário para ter compatibilidade com a maioria das ferramentas que existem por aí. Mas o wiki indica que em 3 paises adotaram 11 níveis de subdivisão, então poderíamos nos juntar a eles definindo que subdistritos usam admin_level=10 e bairros usam admin_level=11. Que tal?

  • O Brasil possui 1 distrito federal, que tem as dimensões de uma cidade mas é tratado como estado no OSM, em parte porque é o que se coloca no campo “estado” ao preencher uma carta, em outra parte porque classificar as regiões administrativas do DF como cidades no OSM facilita uma série de coisas. O Brasil também possui 1 único distrito estadual que é Fernando de Noronha.

Definitivamente “Sede” como place=city está errado. Eu venho usando place=suburb para bairros, da forma como tem sido feito (acho) em todo Brasil. Pelo que entendi, a ordem de grandeza parece ser borough > suburb > quarter > neighbourhood.
No Brasil, temos distrito > subdistrito > bairro. Assim, devemos eliminar um e fazer a correspondência com os outros. Só por essa lógica, a associação bairro=suburb já está errada, então concordo com o Fernando que temos que mudar isso. Place=borough é algo que ocorre, por exemplo, em Nova York, em que a cidade é dividida em 5 boroughs, cada um com administração própria (a cidade de Nova York é formada por 5 municípios), o que acho que não é algo comum no Brasil. A proposta de place=suburb para distritos (municipais), place=quarter para subdistritos e place=neighbourhood para bairros faz sentido (o chato é digitar “neighbourhood” :)). Quanto ao admin_level, acho que devemos manter a forma atual (8 para municípios, 9 para distritos e 10 para bairros). Subdistritos são raros e a comunidade local (da cidade em questão) pode decidir entre atribuir nível 9 ou 10 para os sub-distritos.

Se formos manter os 10 níveis de subdivisão, então acho razoável mapear tanto distritos quanto subdistritos com admin_level=9. A única diferença seria o valor da etiqueta place=* que é “label” na relação do limite. Por mim isso estaria ok.

Mas sendo bem purista, o nível administrativo indica subordinação administrativa. No caso, a administração de uma área que é admin_level=10 (ex.: uma associação de bairro) está subordinada à administração de uma área que é admin_level=9 (uma subprefeitura/administração regional), que está subordinada à administraçaõ de uma área que é admin_level=8 (ex.: uma prefeitura). E pra expressar isso, precisaríamos de 11 níveis no Brasil. E por esse mesmo aspecto, mesorregiões e microrregiões (que são regiões estatísticas) não seriam limites “administrativos”, ou seja, não seriam boundary=administrative e não teriam admin_level (mas isso acho que merece outro tópico).

Eu prefiro manter 10 níveis de subdivisão, como foi feito na maioria dos outros países. Acho que bairro deve ficar em admin_level=10. O nosso problema não está aí, mas nos níveis 5 a 7 (mesorregiões, regiões metropolitanas e microrregiões), que sempre achei estranho. Região metropolitana pode ser menor que microrregião, então essa divisão está confusa. Sei que messoregiões e microrregiões não são regiões administrativas (região metropolitana também não é), mas há uma relação hierárquica clara entre elas, estados e municípios. Além disso, o IBGE é um órgão oficial e essas divisões são bastante utilizadas. Se eliminássemos “região metropolitana” e deslocássemos a classificação, resolveríamos dois problemas. A classificação ficaria: 3=região; 4=estado; 5=mesorregião; 6=microrregião; 7=município; 8=distrito; 9=subdistrito; 10=bairro; 11=sub-bairro (se um dia aparecer algo desse tipo).

Sem dúvida é uma idéia bem interessante remover pelo menos a “região metropolitana” dessa lista. Além das vantagens que você citou, tem mais um motivo: ela não forma uma subdivisão hierárquica. Uma mesorregião não é subdividida em N regiões metropolitanas, e regiões metropolitanas não são subdivididas em microrregiões. Mesorregiões são subdivididas em microrregiões, e regiões metropolitanas incluem parcialmente a área de microrregiões, algumas delas só parcialmente.

Se a idéia for usar limites administrativos no sentido de “subdivisão territorial” (não ficando implícito que a subdivisão precisa ter uma “administração” própria), então o nível 11 provavelmente seria o nível das quadras. Brasília é dividida em quadras, assim como o bairro Restinga em Porto Alegre. Em Brasília especificamente me parece que o melhor é mapear as quadras com landuse=residential/commercial/etc. Em Porto Alegre talvez não seja possível no futuro quando partes da Restinga não forem mais residenciais (existe, por exemplo, um loteamento industrial logo ao lado). Outras cidades brasileiras podem acabar tendo situações parecidas (mas não sei de nenhuma outra que seja dividida em quadras).

Um dos problemas de mapear as mesorregiões, microrregiões e as 5 grandes regiões como limites administrativos é que isso pode confundir algumas ferramentas. O Nominatim, por exemplo, gera uma linha de endereço que inclui todas essas partes (exemplo). O MapFactor Navigator permite procurar endereços e POIs dentro dos níveis 6 e 7 também (o que pode confundir o usuário já que os nomes das ruas podem se repetir fora de uma cidade). Coisas parecidas provavelmente acontecem com outras aplicações (vou postar exemplos conforme encontrar). E se a gente olhar bem a equivalência internacional, vários países não usam os níveis 3 e 5, então não somos obrigados a usá-los.

E ainda, o motivo pelo qual se renderizam fronteiras entre países, estados e municípios é justamente para deixar claro que cada lado está associado a uma autoridade (governo) diferente e que, ao cruzar a fronteira, mudam várias coisas. A implicação maior costuma ser na fronteira entre países, mas na fronteira entre estados também há implicações (afinal cada estado tem sua própria legislação). No caso das regiões, mesorregiões e microrregiões, não há poder nenhum associado, apenas o cálculo de estatísticas. Nada muda ao passar de uma mesorregião para a outra. Então eu acho que elas deveriam ser mapeadas como multipolígonos com a etiqueta place=region. Elas não teriam renderização especial, nem afetariam o roteamento ou a geolocalização ou a formatação de endereços, e se alguém quiser extrair os limites, basta procurar (digamos, com o osmfilter) por relações type=multipolygon com place=region que comecem com “Região” ou “Mesorregião” ou “Microrregião”. Sendo poucas, elas poderiam ser listadas no wiki também.

A Wikipédia diz que “distritos são territórios em que se subdividem os municípios, e costumam se subdividir em bairros” e que subdistritos “geralmente são similares aos bairros”. Não sei quão precisas são essas informações, mas isso indicaria que subdistritos e bairros deveriam ser tomados como sinônimos no OSM. Casos excepcionais, se surgirem, podem ser tratados de maneira diferente.

Eu acho que seria interessante reservar um nível abaixo do bairro na chave place, que poderia ser usado para aglomerados subnormais ou loteamentos e condomínios notáveis. Se por alguma razão for necessário associar um admin_level, poderia-se usar o 11. Isso meio que forçaria associar place=suburb a bairros e place=borough para distritos. O fato de borough ser pouco utilizado no OSM corresponde ao fato de que distritos não têm muita visibilidade no Brasil, então acho que não tem problema.

Sobre a sugestão de usar admin_level=7 para municípios, não há um padrão claro no OSM, mas usar admin_level=8 para municípios me parece um pouco mais comum. Além disso, a gente já está usando esse esquema e é perfeitamente possível se adaptar em torno dele.

Remover o admin_level dessas regiões administrativas não me parece má idéia, contanto que não vá fazer um monte de rótulos aparecerem nos mapas (polígonos com chave “place” recebem um rótulo?). Um “county” nos EUA parece ter mais ou menos a mesma escala que uma região metropolitana ou microregião (talvez um pouco menor) https://duckduckgo.com/?q=cook+county+map, https://duckduckgo.com/?q=suffolk+county%2C+massachusetts+map, então daria pra usar place=county nesses casos. Daí sobra place=district para as mesorregiões. Pode ser um pouco exótico, mas não estaria errado.

Uma dúvida: eu sempre achei que região metropolitana estivesse no mesmo nível hierárquico das microrregiões. Estou enganado?

Outro comentário, já que estamos aqui: notei que costuma haver um monte de informações duplicadas nas etiquetas do multipolígono de cidades e no nó que é o admin_centre. Exemplo: https://www.openstreetmap.org/relation/242397 https://www.openstreetmap.org/node/313557783. Deveríamos fixar um padrão para o que vai onde.

A respeito dos endereços um tanto esdrúxulos exibidos pelo Nominatim, eu acho que isso não necessariamente é um argumento muito forte a favor de remover os admin_levels das subdivisões administrativas. A seguinte busca nos EUA https://www.openstreetmap.org/search?query=harvard+medical+school também mostra detalhes “irrelevantes” no endereço (por exemplo, ninguém incluiria “Suffolk County” no endereçamento de uma carta). O fato é que a formatação de endereços deveria ser localizada por país. Isso corrigiria também o problema da ordem em que o nome da rua e número da porta são mostrados.

Os mapas do DuckDuckGo (baseado no Mapbox) fazem um bom trabalho:https://duckduckgo.com/?q=ccmq%2C+porto+alegre+map https://duckduckgo.com/?q=bourbon+wallig+poa+map

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DuckDuckGo, The search engine that doesn’t track you. :wink:

Se eliminarmos as etiquetas type=boundary e admin_level=* dessas regiões, elas não serão nem renderizadas (pelos atuais renderizadores), nem pesquisáveis (pelo Nominatim), porque atualmente elas não têm a etiqueta place. Talvez elas sejam pesquisáveis se forem mapeadas com type=region (que, apesar de ser uma proposta abandonada, continua sendo muito usada na Europa), ou se seguirmos a sua sugestão de aplicar place=district para as mesorregiões e place=county para as microrregiões. Nesse caso, eu acho que aparecerão rótulos apenas nos níveis de zoom mais aproximados, e daí a pessoa tem que ter a sorte (ou o azar) de estar visualizando o centro da região. De qualquer forma, esse tratamento varia de um renderizador para outro.

Não há um consenso internacional sobre o que vai aonde. Aplicações diferentes consomem a informação de lugares diferentes (algumas pegam da relação, outras - mais antigas - pegam do ponto). Você pode confirmar isso baixando alguns limites na Alemanha, na França, na Inglaterra, etc.

Eu vejo o Nominatim mais como um efeito colateral do que um motivador para essa mudança. O ponto principal é o seguinte: Suffolk County é uma região com administração própria (sede, escritórios, administradores, etc. ou seja, autonomia de decisão), mas a Microrregião de Porto Alegre não tem administração própria. A relação que representa essa área jamais poderia ter um membro admin_centre (como todos os outros níveis administrativos têm). Essa é a sutileza a que me refiro. A Região Sul do Brasil também não tem administração própria. Regiões, mesorregiões e microrregiões são apenas regiões estatísticas, não administrativas. Obviamente é bem interessante tê-las no mapa, a única questão é a melhor forma de mapear para que as aplicações possam distinguir as duas coisas e escolher somente o que é relevante para elas.

Dá uma olhada na equivalência internacional nas colunas 5, 6 e 7.